Pais idosos: quem deve assumi-los?

Existem duas respostas para essa questão: a primeira é de cunho bíblico e teológico, e a segunda estaria ligada ao aspecto legal. Na ótica bíblica, não existe qualquer desconforto em oferecer resposta quanto ao devido cuidado aos pais idosos, visto que nas páginas do Velho Testamento os pais eram vistos não apenas como chefes das famílias, mas também como abençoadores delas. É o que está explícito em Gênesis 27.34 e Josué 24.15.

Na literatura e costumes hebraicos, os filhos honravam os pais não apenas quando os mesmos já estavam idosos, mas era algo que acontecia constantemente. Na imperatividade hebraica, quando determinou Moisés que se honrasse pai e mãe (Êxodo 20.12), o verbo mencionado (kabed) indica tratar como ser importante,  rico, glorioso. De acordo com o teólogo Alan Pallister, é atribuir peso ou prestígio a alguém.

O respeito e a honra que os filhos manifestam para com o pai nasce da compreensão de vê-los como orientadores e abençoadores do lar (Deuteronômio 6.20,21. Jó 1.5), de modo que em momento algum um filho deve pensar em desprezar seu pai, especialmente na velhice (Provérbios 23.22). Sendo um docente, os pais buscavam todos os meios para encaminhar os filhos nos bons caminhos, dando-lhes orientações devidas, inclusive as correções necessárias para que as influências pecaminosas não os dominassem (Provérbios 13.24; 23.13,14).

Conforme o livro de Provérbios, na ação pedagógica, os pais estão juntos na boa formação dos filhos, é claro. Eles não podem assegurar que seus filhos seguirão todos os seus conselhos, pois, ao se tornarem adultos, farão as suas escolhas, mas a influência é certa (Provérbios 22.6). No demais, não podemos esquecer que cada filho tem uma natureza pecaminosa, e que por vezes poderá tomar caminhos diferentes, porém, não se deve pensar que nesse processo pedagógico houve erro dos pais, se na verdade buscaram integrá-los nos bons ensinos. O profeta Jeremias enfatiza esse particular quando evidencia a responsabilidade que cada filho tem diante daquilo que ouviu de seus pais (Jeremias 31.29,30).

No processo evolucionário bíblico, vê-se claramente que o respeito e a honra para com os pais eram algo normal entre as famílias. Vemos um exemplo desse contexto doméstico na pessoa de Jesus. O Senhor valorizou grandemente a família, em especial sua mãe. De sua parte nunca houve qualquer desrespeito e, próximo de sua morte, continuou a manifestar preocupação quanto à segurança dela, por isso entregou-a aos cuidados de seu discípulo João (João 19.6).

Jesus manifestou oposição contra aqueles que não cuidavam dos pais, buscando apenas seus próprios interesses (Mateus 15.1-5). Ele priorizou o chamado ao discipulado acima da família (Marcos 10.37; Lucas 9.6), mas em momento algum buscou dar ênfase a qualquer sentimento de desvalorização dos pais.

Prosseguindo na linha neotestamentária, o apóstolo Paulo manifestará, em suas palavras, a honra e o respeito que os filhos devem ter para com seus genitores. Ele faz uso da palavra obedecer no relacionamento entre pais e filhos (Efésios 6.1-4). Por intermédio do ensino paulino, ficou evidente que os filhos, independentemente da idade, deveriam manifestar respeito, honra, cuidado e submissão aos pais até à morte deles, não excluindo a questão de os filhos serem maiores de idade. Outro exemplo notável foi o do patriarca José, que acompanhou o estado de saúde de seu pai Jacó até o dia da sua morte (Gênesis 45.9-15).

Pelo que foi exposto acima, observamos que nas páginas de ambos os testamentos é possível observar que o respeito, a honra e os cuidados dispensados aos pais durante toda a vida são algo que cada filho deve fazer, tendo na memória suas ações paternais, pedagógicas, seus afetos, carinhos, amor e ações que sempre manifestaram no lar.

Biblicamente e, de acordo com a tradição judaica, os filhos eram os responsáveis em cuidar dos pais ao atingirem a Terceira Idade, razão pela qual o salmista afirma que os filhos são herança do Senhor (Salmos 127.3). É interessante salientar ao menos duas razões: a primeira, porque filhos vêm de Deus, somente o Eterno pode dá-los (Gênesis 20.18; 30.2; 1 Samuel 15); e a segunda razão é que o salmista usa a expressão “filho da mocidade de um pai”, que pode ter o sentido de que, sendo ele bem-educado, poderia oferecer-lhe proteção em tempos difíceis, que na verdade referia-se à vinda de adversários ou também quando chegava a velhice.

Devido à insipiência, à insensibilidade e ao descaso de muitos filhos para com os pais, ou quaisquer pessoas mais jovens que não respeitam os idosos, foram criadas leis com o objetivo de assegurar a devida honra e tratamento que os idosos tanto precisam e merecem. No Brasil, temos o Estatuto do Idoso, a Lei 10741/03 | Lei nº 10741, de 1º de outubro de 2003, cujo objetivo primordial é regular e assegurar os direitos dos idosos. O artigo 30 do Estatuto do idoso diz: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Hoje vivemos em um mundo no qual as mudanças sociais acontecem de modo vertiginoso e que têm alcançado as pessoas idosas, de modo que existem famílias que não querem ter responsabilidades com os idosos, gerando neles um sentimento de tristeza e pesar, por se considerarem um peso para seus filhos.

Existem filhos que indicam a vida acadêmica e o casamento como empecilhos ao cuidado que os pais merecem, por isso decidem enviá-los a um lar de Terceira Idade e visitá-los apenas quando puderem. Obviamente, não devemos ser ríspidos quanto à questão de se enviar os pais para um lar de Terceira Idade, para um abrigo, pois cada caso deve ser analisado. No entanto, sempre refletindo que os pais, além de sua jornada, quando se tornam avós, da mesma forma, dedicam tempo e cuidado com os netos, bisnetos, porém, infelizmente, por causa da decadência orgânica, resultado da ação do tempo, eles não conseguem mais fazer isso; a partir de então, cada filho deve ser consciente e assumir a responsabilidade de cuidar, zelar e suportar seus pais, sem considerá-los um peso, mas como bênçãos, manifestando gratidão e carinho por tudo que fizeram.

Portanto, o cuidado com o idoso não deve ser uma questão de um direito positivo, mas, sim, de amor, ternura e respeito para com este ser humano tão especial. Não se pode comparar o convívio de um lar em que os pais estão com seus filhos com um abrigo para pessoas idosas. Jamais um filho deve pensar que a assistência financeira dispensada ao idoso é suficiente para o bem-estar físico e mental dos seus genitores, pois, mais que uma casa, os pais idosos precisam de um lar, no qual eles consigam encontrar o afago, o carinho, o respeito e a amizade que tanto precisam. Eu quero dizer um lugar onde esses idosos sintam o calor humano, que são amados pelos filhos, netos, bisnetos, noras, genros; enfim, por toda a família envolvida nesse imenso laço de sentimentos. Vamos falar de modo bem direito: segundo os parâmetros bíblicos, a responsabilidade de cuidar dos idosos é de toda família.

por Osiel Gomes

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