O rei Asa evitou destruir ou ordenou a destruição de altares idólatras?

Como entender 1 Reis 15.14, que revela o rei Asa evitando destruir os altares idólatras, e 2 Crônicas 14.3, que mostra o inverso, ele ordenando a destruição dos altares?

Cremos que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, que os autores humanos a escreveram inspirados pelo Espírito Santo, e que ela é a inerrante, completa e infalível Palavra de Deus (SILVA, 2017, p. 25, 26). Mas a Bíblia não foi ditada aos homens; os escritores humanos tinham objetivos específicos para seus escritos (embora a intenção de Deus estivesse além da intenção humana), e os propósitos e temas dos livros de Reis e de Crônicas são diferentes.

Os livros de Reis e Samuel foram escritos no período do Exílio, tratam do surgimento da nação de Israel e mostram que a violação da aliança com Deus, por parte do povo e de seus reis, foi o motivo da deportação. Os livros de Crônicas mostram a monarquia davídica como modelo do governo teocrático de Deus sobre a Terra, prenunciando o reino do Messias.  Eles foram escritos após o exílio, para mostrar que Deus continuava fiel em suas promessas para com Israel (MERRILL in ZUCK, 2009, p. 177, 178).

A história do rei Asa aparece, no livro de Reis, num relato muito sucinto (1 Reis 15.8-24). Em 2 Crônicas este relato é expandido nos capítulos 14 a 16 (17 versos em Reis e 48 em Crônicas). O cronista divide a história deste rei em dois períodos, o de fidelidade (14.1-15.19) e o de infidelidade (16.1-14). No primeiro, ele buscou ao Senhor e removeu a idolatria (14.4, 5), ouviu a profecia (15.8) e renovou a aliança com Deus (15.10-15). Depois, ele trocou a aliança e a confiança em Deus (16.2, 3) e desprezou a profecia (16.10), o que lhe trouxe problemas e morte. O cronista apresenta estas opções para a comunidade pós-exílica: fidelidade e bênção, ou infidelidade e morte.

O autor de Crônicas mostra que o rei, inicialmente, aboliu a adoração pagã (14.3), mas, no período final, seu decreto foi desobedecido (15.17). A adoração em lugares altos (montes ou elevações de terra) era uma prática comum, inclusive por adoradores fiéis: Abraão (Gênesis 12.8; 22.2), Moisés (Êxodo 19.3) e Samuel (1 Samuel 9.12). Após a construção do Templo, este foi o lugar alto escolhido e exclusivo para a adoração a Deus (2 Crônicas 3.1; 6.6; 7.12-15). Heater JR (in ZUCK, 2010, p. 134, 135) afirma que o historiador, no livro de Reis, condena os “lugares altos” que, por sincretismo, se tornaram destrutivos para o povo, ao final da era monárquica, mas que, no período anterior, eles cumpriam um papel legítimo na adoração ao Senhor. A idolatria, no entanto, sempre foi condenada.

Enquanto Reis mostra apenas a visão final de quebra da aliança, Crônicas mostra um quadro mais detalhado, para destacar que a adoração fiel a Jeová sempre resultou em bênçãos e vitórias para seu povo e mostrar que a adoração pagã, que era ainda praticada pelo povo, traria o juízo de Deus.

Referências Bíblicas

PRATT JR, Richard L. 1 e 2 Crônicas – Comentários do Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

SILVA, Ezequias Soares da (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 25, 26.

ZUCK, Roy B. (ed.). Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

por Carlos Kléber Maia

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