A relação entre versículos de Isaías e Tiago sobre a unção com óleo

A passagem de Isaías 10.27 entra em conflito ou harmoniza-se com Tiago 5.14,15 acerca da utilização do óleo por parte do ministério da igreja?

A Bíblia discute o tema da unção com óleo, uma prática comum no antigo Oriente Médio. No Antigo Testamento, existem três tipos de unção, a saber: a unção cotidiana, usada para higiene e embelezamento (Rute 3.3; Salmos 104.15; Provérbios 27.9), como gesto de hospitalidade (Salmos 23.5; Lucas 7.46) e ao preparar corpos para sepultamento (Marcos 14.8; 16.1); a unção medicinal, usada para tratar enfermidades e lesões (Isaías 1.6; Lucas 10.34) (Os discípulos de Jesus ungiam os enfermos com azeite ao orar por sua cura – Marcos 6.13; Tiago 5.14); e a unção de consagração, empregada para consagrar objetos e pessoas a Deus. Alguns exemplos são a pedra de Jacó em Betel (Gênesis 28.18), o Tabernáculo e seus utensílios (Êxodo 30.22-29), além da unção de profetas (1 Reis 19.16; 1 Crônicas 16.22), sacerdotes (Êxodo 28.41; 29.7; Levíticos 8.12,30) e reis (1 Samuel 9.16; 10.1; 16.1,12,13; 2 Samuel 2.7; 1 Reis 1.34; 19.16). Essa prática enfatizava a escolha e preparação divina para funções significativas no plano de Deus, prenunciando o ministério de Jesus, que foi ungido pelo Espírito (Atos 10.38).

A expressão “texto sem contexto é pretexto” é valorizada na Hermenêutica, que é a arte da interpretação bíblica. Ao analisar textos bíblicos em seu contexto histórico e linguístico, notamos nuances. As passagens citadas foram escritas em épocas distintas. Observando Isaías 10.27, vemos detalhes do período após a divisão de Israel em dois reinos em 930 a.C. O Reino Norte seria depois invadido pelos assírios, sob Tiglate-Pileser II e Senaqueribe. A ameaça de dominação assíria trouxe medo ao povo. Deus, insatisfeito com a arrogância assíria, proferiu Sua sentença contra eles e prometeu libertação a Israel, conforme destacado em diversos versículos.

A interpretação do termo “unção” é debatida. A palavra hebraica שֶׁמןֶ pode significar gordura, óleo ou obesidade. Algumas interpretações, como a de Horton (2003), sugerem variados entendimentos, desde o orgulho assírio até a intervenção divina em favor de Israel. Contudo, o termo tem sido usado inadequadamente em tempos recentes, com práticas de unções em vários contextos. Assim, a conexão entre o que Isaías escreveu sobre a unção e o que é discutido em Tiago 5.14,15 é quase inexistente. Tiago aborda a prática da oração, especialmente quando alguém enfrenta dificuldades ou doenças. Nesse contexto, ele orienta que o enfermo ou alguém com sua permissão deve chamar os presbíteros da igreja para receber a unção com óleo.

É relevante mencionar que no Novo Testamento o uso medicinal do óleo era comum. Na passagem bíblica conhecida como “A Parábola do Bom Samaritano”, houve a utilização de óleo e de vinho para tratar as feridas de um homem agredido por ladrões (Lucas 10.34). O ato da unção em Tiago 5. 14,15 pode ser a aplicação simbólica de uma pequena quantidade de óleo na cabeça do doente. Não há detalhes precisos sobre sua execução, mas pode envolver a aplicação extensiva de óleo no paciente. Além de seus benefícios físicos, o óleo carrega um simbolismo espiritual, marcando locais de manifestações divinas (Gênesis 28.18) e em rituais de consagração (Êxodo 30.22 ss). A unção com óleo feita “em nome do Senhor” pode simbolizar a intervenção divina na cura do paciente. A cura ocorre pela ação direta de Deus, e não meramente pelo óleo ou pela oração em si. A ênfase está no poder do Senhor, invocado na oração, e não no óleo. Jesus ressaltou que o poder vinha dEle e não do óleo. Portanto, é importante evitar práticas modernas e modismos, como unções coletivas ou o uso de “óleos sagrados” de Israel.

Por fim, a oração feita com fé é o meio pelo qual o enfermo é curado. A unção é secundária à oração e à fé depositada nela. Assim como Deus livraria Seu povo dos assírios por Seu próprio poder, a recuperação do enfermo não vem do óleo, mas da intervenção divina em resposta à oração. O óleo é só um símbolo.

Bibliografia

HORTON. S. M. Isaías, o profeta messiânico. Rio de Janeiro, CPAD, 2003.

KISTEMAKER. S. Comentário do Novo Testamento, Tiago e Epístola de João. São Paulo, Cultura Cristã, 2006.

MILLOS. S.P. Comentario Exegético al texto griego del Nuevo Testamento Santiago. Barcelona, Editorial Clie, 2011.

NYSTROM. D.P. Comentários Bíblicos con Aplicación, Santiago. Miami. Editorial Vida, 2011.

OSWALT. J. Isaías (Volume I, capítulos 1-39). São Paulo. Cultura Cristã, 2011.

por Gesiel Camilo

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