“Pastor, como pregar a verdade do Evangelho sem ofender o mentiroso?”

A mentira, do ponto de vista bíblico e teológico, fere gravemente os princípios presentes na Bíblia Sagrada e a ética cristã. A Palavra de Deus incentiva um relacionamento com Deus e com o ser humano, baseado em integridade e verdade. À luz das Escrituras, compreendemos que Deus é a fonte da verdade e que contra Ele não se pode mentir (Tito 1.2). A Palavra de Deus é, em sua essência, verdadeira (João 17.17), de modo que a mentira se choca com a natureza e os atributos de Deus.

Dessa forma, compreendemos que a mentira é contrária à natureza do próprio Deus, que a condena. Logo, tal prática jamais é permitida por aquele que serve ao Senhor Jesus Cristo, uma vez que aquele que vive na prática da mentira, conforme foi ensinado por Jesus, não segue a Deus, mas ao próprio Diabo (João 8.44).

A mentira, de fato, é a essência característica do maligno, assim como daqueles que não seguem a Deus. A verdade sempre foi prioridade na Palavra de Deus, como o próprio apóstolo Paulo deixa claro em Efésios 4.15, destacando a importância de andarmos na verdade: “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”. Isso ocorre porque a verdade é essencial para o nosso relacionamento com Deus e com o próximo, gerando confiança, mutualidade e crescimento espiritual. Não há bençãos para quem anda na mentira.

Encontramos nas páginas seletivas da Bíblia que a mentira tem consequências gravíssimas, como a perda da confiança, prejuízo aos relacionamentos e distanciamento do homem de Deus. Na verdade, à luz de Apocalipse 22.15, a mentira impede a pessoa de entrar no Reino de Deus. “Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”.

As Sagradas Escrituras, ao abordar a questão da mentira, evidenciam seus males e porque que ela é condenada, priorizando a verdade como fundamental para um bom relacionamento e para uma conduta cristã equilibrada. Em Provérbios 12.22, a Bíblia diz que os lábios mentirosos são detestáveis ao Senhor. Em Colossenses 3.9, é enfatizado que não devemos mentir uns aos outros, porque o homem velho já foi derrotado. Além disso, em Efésios 4.25 está claro que cada um de nós deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, uma vez que todos nós fomos comprados e lavados pelo sangue de Jesus.

Em vista disso, a Palavra de Deus enaltece a verdade e combate a mentira, pois deseja que o cristão viva na honestidade, na integridade e no respeito nas relações humanas, jamais encorajando a falsidade, a mentira ou aquilo que é contra a verdade.

Mesmo  diante  do  exposto,  alguns ainda fazem a seguinte indagação: “Pastor, como pregar a verdade sem ofender o mentiroso?”. Por um lado, a verdade não pode ser negociada. Por outro, o verdadeiro pregador do Evangelho possui amor, sensibilidade e compaixão ao ministrar a Palavra de Deus em todos os aspectos. Portanto, é necessário, em primeiro lugar, manter o foco na Palavra de Deus. Em segundo lugar, o pregador deve entender que a pessoa em questão precisa saber e compreender a verdade, que deve ser pregada evitando julgamentos pessoais e procurando priorizar a santa e preciosa Palavra de Deus, que toca no coração de qualquer indivíduo. Conforme o escritor da Carta aos Hebreus destaca, “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12). Assim, a primeira coisa que um pregador deve fazer para pregar a verdade sem ofender o mentiroso é tratar isso com sensibilidade, compaixão, ternura e amor e sempre à luz da Palavra de Deus.

O pastor comprometido com a Palavra de Deus, que a obedece de modo irrestrito, deve pregá-la como ela é, sabendo que ela tem o poder de transformar qualquer pessoa. O apóstolo Paulo deixa isso bem claro em 2 Timóteo 3.16, ao afirmar que a Palavra é útil para ensinar, redarguir, corrigir e instruir em justiça. Assim, o pregador que usa a Palavra como arma fundamental no púlpito, sem ceder a atos, conversas particulares ou intromissão na vida das pessoas, mas expondo na íntegra os pontos bíblicos e a essência das Escrituras, demonstra que tem compromisso com a santa e gloriosa Palavra de Deus. Quando o pregador ministra a verdade em sua essência, aquele que falta com a verdade, o mentiroso, ao saber que o pastor está ministrando a Palavra da Verdade, pode ser tocado e despertado por ela. Agindo dessa maneira, seguindo os princípios bíblicos, o pregador pode pregar a verdade sem ofender.

O pregador que segue a verdade da Palavra de Deus não força nem busca adaptar aquilo que ele fala a determinados problemas ou a determinadas pessoas. O seu alvo é que a Palavra de Deus toque o coração de quem quer que seja. Ele não busca, com suas ideias ou com a sua força própria, manipular qualquer texto bíblico para resolver determinados problemas, como confrontar um mentiroso.

Certo pastor, recém-chegado em uma determinada igreja, iniciou uma série de estudos expositivos com base no livro de 1 Coríntios. Seguindo capítulo por capítulo, suas explanações eram claras e contundentes. Ao abordar o tema da imoralidade na quinta mensagem, ele o fez com toda seriedade, verdade e transparência. Pouco tempo depois, um membro influente da igreja, com determinado poder e temido por muitos, o procurou para ser aconselhado e confessou estar envolvido em uma conduta imoral. O pastor não tinha conhecimento da situação. Entretanto, aquele irmão foi confrontado pela mensagem da Palavra de Deus naquele dia, pois sabia que o pastor não estava utilizando a Palavra para atingi-lo, desmascará-lo ou atacá-lo pessoalmente, mas estava seguindo o estudo expositivo da Palavra de Deus. Assim, aquela mensagem tocou em seu coração e veio com uma ajuda renovadora e transformadora. O irmão humildemente reconheceu seu pecado, confessou e buscou a ajuda espiritual de toda a igreja. Quando o pastor está comprometido com a Palavra da Verdade, ensinando-a conforme o Senhor Jesus ordenou, a igreja saberá que ele fala a verdade. Dessa forma, ele poderá tratar de todos os temas, inclusive sobre a mentira, sem ofender o pecador, mas não permitindo que ele persista no pecado.

por Osiel Gomes

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