Vigilância com o nosso olhar – 1ª parte

Os avanços pós-modernos dos diversos canais televisivos e de streaming, e também das múltiplas redes sociais, têm tornado o cuidado com a pureza do olhar uma necessidade cada vez mais premente e meticulosa. A facilidade que a evolução da internet promoveu é algo admirável, essencial, contudo carente de intensa cautela. O seu mau uso tornou possível o que só podia ser feito camufladamente no ambiente real. Hodiernamente, muitos pecados, antes difíceis de serem cometidos presencialmente, são realizados desenfreadamente em escala exponencial. O acesso ao pecado tem estado a um click. Agora, além dos cuidados que já eram requeridos, precisamos também ter cuidados no âmbito online, pois o mesmo inimigo que opera no ambiente real atua semelhantemente no meio virtual para nos destruir e tirar nossa salvação em Cristo Jesus. Por isso, precisamos estar vigilantes contra todas suas astutas e ciladas (Efésios 6.10-12), com nossa visão empenhada na direção certa que nos produz edificação e crescimento espiritual (Hebreus 12.2) e nos fortifique contra toda atração mentirosa e pecaminosa que se põe diante de nossos olhares.

A Bíblia Sagrada está repleta de valiosos exemplos que demonstram as sagazes maneiras de influência, atração e engano que o Diabo tem usado nas mais diferentes épocas e contra dissímeis personagens ao longo dos séculos de existência da raça humana. Como aconteceu na Dispensação da Inocência com nossos pais Adão e Eva, que desfrutavam de grandes belezas e de ambientes inigualáveis, mas se deixaram atrair pelas mentiras descaradas da serpente e não lograram êxito em resistir-lhe, devemos ter cuidado hoje. Deus havia os alertado sobre a pena que experimentariam caso comessem do fruto da árvore que estava no meio do Jardim (Gênesis 2.16, 17), mas, ao contrário do que Jesus faria séculos depois (Mateus 4.1-11), o primeiro casal não teve firmeza para repreender Satanás. A mulher até tentou opor-se, porém logo foi convencida pelas mentiras da serpente (Gênesis 3.1-4). Eva foi convidada a olhar para aquele fruto com mais atenção para que assim se esquecesse de tudo que o Senhor já tinha dito sobre os danos colaterais que ele causaria para quem o comesse (Gênesis 3.5,6).

Esta tática diabólica de trazer o olhar e imobilizá-lo apenas nas falsas vantagens que se ganhará ao cometer tal pecado é muito mais antiga do que parece. Nosso adversário usa esse embuste do êxtase para nos esquecermos de tudo o que Deus nos alertou e disse sobre o pecado e suas consequências. Satanás procura armar um delírio em nossa percepção de certo e errado, nos fazendo acreditar apenas no “aqui e agora” para, dessa forma, nos fazer alucinadamente ignorarmos os efeitos deletérios que aquele pecado irá nos trazer. E o resultado deste frenesi repercute em desvio desequilibrado da visão, que deveria estar em Cristo, para um olhar centralizado no pecado, deixando de ouvir a voz de Cristo para dar ouvidos ao que dizem nossos desejos carnais, virando as costas para o senhorio de Jesus e passando a ser escravos do pecado, realizando o que ele ordena (João 8.34; Romanos 6.16; 2 Pedro 2.19). Esse é o caso, por exemplo, da pornografia, que nos dias atuais tem acorrentado muitos indivíduos que tristemente choram com vontade de se libertar, mas não têm forças para vencer esse vício terrível, pernicioso e destruidor, que cativa pelos olhos e escraviza mentes à dependência de consumo diário em troca de prazeres egoístas e pecaminosos.

Eva, igualmente atraída pela vontade soberba e individualista, começou a olhar para a árvore e seus frutos com desejo, vendo que ela era “boa para se comer” e que era “agradável aos olhos” (Gênesis 3.6), lançando sua mão para pegar e degustar de seu fruto e o trazer ao seu marido. Adão, ao que parece, já nutria desejo de comê-lo, mas não tinha coragem por medo de sofrer uma morte física instantânea. Ao ver que isso não aconteceu com sua mulher, não perdeu tempo e também ingeriu aquele fruto, resultando na compreensão de sua nova situação pecadora diante de Deus (Gênesis 3.7,11). Ambos sabiam que haviam transgredido as ordens divinas e que seriam punidos por causa de sua desobediência (Gênesis 3.7-10), então fizeram o que todo pecador frequentemente faz: inventa desculpas e culpa lugares e pessoas, esquecendo-se que o verdadeiro culpado é tão somente ele mesmo. O Diabo apenas nos induz ao pecado, mas quem o consuma de fato somos nós mesmos. A decisão de ceder a uma tentação é unicamente nossa (Tiago 1.14,15) e por ela seremos responsabilizados. Sempre existe a possibilidade de optar por sua consumação ou por sua resistência mediante a ajuda do Espírito Santo, que nos dá suporte e sabedoria para vencermos qualquer tentativa de Satanás de nos fazer pecar (Gálatas 5.16,17).

Uma de suas principais armas é justamente a atração ocular para algo que parece lindo, encantador, atrativo e produtor de satisfação pessoal. Esse é o caso do tal pecado disfarçado de “bênção de Deus”, que se mostra atrativo aos olhares, mas por detrás de suas cortinas está repleto de imoralidade e perversão. Isso nós pudemos observar na trajetória do sobrinho de Abraão chamado Ló, que quando teve diante de si a escolha para qual direção iria no momento em que se separasse de seu tio, apontou a vista para as formosas cidades de Sodoma e Gomorra, que ao seu olhar eram o melhor e mais vantajoso lugar de morada (Gênesis 13.8-10). Mas, aos olhos de Deus, aquela cidade era um berço de todo tipo imundo de pecado (Gênesis 13.13) e deveria ser apagada do mapa do planeta terra. Não demorou muito para esse dia chegar (Gênesis 19.13). Ao que parece, parte da família de Ló já estava enraizada naquele solo pecaminoso (Gênesis 19.14-16), de tal forma que, no momento da destruição, sua própria mulher olhou para trás para ver se realmente tal destruição estava acontecendo. Em resposta à sua desobediência, Deus a transformou em uma estátua de sal (Gênesis 19.24-26), pois ela não queria sair daquela cidade, seu desejo era continuar habitando naquela localidade. Em vez de olhar para a salvação que Deus estava dando-lhe, ela preferiu olhar para o pecado que havia deixado para trás. Ela preferiu desvalorizar a salvação para lamentar os pecados que não praticaria mais.

Semelhantemente acontece quando paramos de olhar para Jesus e começamos a olhar para as falsas vantagens que a prática do pecado nos pode conceder. Devemos tomar cuidado para não nos distrairmos com os prazeres pecaminosos ao ponto de não sentirmos mais arrependimento de cometer algum pecado (Efésios 4.22-32), o que ocorre quando, a exemplo da mulher de Ló, viramos para trás, para a nossa velha Sodoma que deixamos posteriormente e nos esquecemos da salvação tão esplêndida que nosso Senhor e Salvador tem nos proporcionado.

por Osiel de Sá

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